Um dos maiores problemas encontrados pelos médicos no decorrer de suas carreiras é a falta de agilidade e controle no trabalho que desenvolvem. Felizmente, tais empecilhos são facilmente resolvidos por meio do prontuário eletrônico do paciente.
Essa ferramenta digital propicia mais rapidez e facilita o trabalho do médico, e, por isso, já é utilizada amplamente por diversos hospitais e clínicas. Continue a leitura e conheça as vantagens e benefícios do aplicativo, além de saber como utilizá-lo e tirar o maior proveito possível!
O que é o prontuário eletrônico do paciente?
O prontuário tradicional é definido pelo Conselho Federal de Medicina como o único documento capaz de conter todas as informações possíveis sobre a saúde de um paciente.
Essas informações podem ser constituídas por exames, imagens e o que mais for necessário para garantir o acesso rápido a todos os acontecimentos ligados à saúde da pessoa.
O prontuário eletrônico do paciente (PEP) é a versão digital do famigerado prontuário de papel. Os dois cumprem a mesma função e são beneficiados pelas mesmas resoluções e permissões — mas a versão digital apresenta maior facilidade de organização e ordem.
Além disso, a versão em papel pode estar sujeita a extravios, danos pelo tempo e à falta de sigilo.
Quando a ferramenta foi criada?
A versão eletrônica desse documento começou a ser veiculada na década de 1960, sendo os Estados Unidos o país pioneiro em sua utilização.
A aplicação do PEP foi viabilizada pela Healthcare Information and Management Systems Society (HIMSS), uma associação internacional cuja intenção é implementar o uso da Tecnologia de Informação (TI) no setor da saúde.
Utilização da tecnologia nos Estados Unidos
A praticidade e a agilidade proporcionadas pelo prontuário eletrônico para os médicos e os pacientes são tantas que o governo dos Estados Unidos decidiu pela implantação de incentivos para a adoção da versão digital pelos hospitais.
Inicialmente, instituições de grande visibilidade criavam parcerias com as universidades precursoras nessa tecnologia, como a Universidade de Harvard. Porém, na década de 1980, houve a expansão dessa automação para outras instituições.
Em 2014, mais de 80% dos médicos norte-americanos já utilizavam o PEP, número considerado inferior à meta do governo estadunidense — a publicação de um relatório pelo Institute of Medicine (IOM), em 1991, requereu o fim de registros escritos em papel num prazo de dez anos. O sistema deveria ser totalmente digital em 2001, o que não ocorreu.
Nos Estados Unidos, o incentivo financeiro só é dado ao profissional de saúde mediante a comprovação da utilização do prontuário eletrônico e a constante atualização do estado de saúde do paciente.
A implementação desse sistema tem como objetivo criar um cadastro de saúde da população norte-americana. Assim, o governo consegue analisar de forma mais segura o real estado de saúde da população, facilitando políticas de prevenção e uma atuação mais certeira em casos de epidemias.
Além disso, o PEP pode ajudar o paciente em casos de acidentes em outros estados ou cidades. Nesse caso, qualquer médico pode acessar os dados de saúde do indivíduo, facilitando o cuidado e impedindo certos danos, como interações medicamentosas graves.
Presença na Europa
Na Europa, países como Holanda, Suécia e Inglaterra apresentaram grandes feitos na área de desenvolvimento e implementação dos modelos de prontuário eletrônico.
A Inglaterra, em seu programa nacional de saúde, investiu aproximadamente 6,2 bilhões de euros na área de subsídios e na criação de um cadastro nacional voltado à saúde.
A relação entre o Brasil e a tecnologia
No Brasil, o PEP foi implementado em 2002, pela resolução 1638/2002. Mas, infelizmente, o avanço e a aceitação não obtiveram a mesma velocidade observada nos EUA.
Mesmo assim, diversos projetos de lei foram criados para reverter esse quadro e substituir os prontuários de papel.
Em nível nacional, tramita no Senado um Projeto de Lei (PLS 474/2008) determinando a implantação do PEP para todos os pacientes atendidos pelo SUS.
O objetivo assemelha-se ao projeto em andamento nos Estados Unidos: criar um sistema capaz de recolher o máximo de informações de cada paciente e disponibilizar o seu acesso para todos os profissionais de saúde em todo o território nacional.
Quais são os benefícios do PEP?
A principal funcionalidade do prontuário eletrônico do paciente é, de fato, tornar qualquer atendimento mais rápido e completo, evitando longas procuras por fichas de papel. No entanto, seus benefícios vão muito além. Veja só:
1. Permite que a ficha de qualquer paciente seja acessada em qualquer lugar, uma vez que as informações são inseridas em um software;
2. Facilita o compartilhamento de informações de um mesmo paciente entre diversos médicos ou instituições com casos em comum;
3. Garante maior segurança dos dados, pois as informações ficam guardadas e só podem ser acessadas indivíduos cadastrados. Isso impede a alteração, a destruição e até o furto de certos dados;
4. Mantém a integridade de informações, pois tudo que foi escrito nunca será modificado, nem mesmo pelas pessoas com acesso aos dados, como médicos.
5. Gera economia de tempo, papel e, principalmente, de espaço.
Quem adota o PEP como aliado de trabalho só tem a ganhar tempo, agilidade e credibilidade com os pacientes atendidos e com os demais profissionais da área da saúde.
Como implementar a tecnologia?
A implementação do prontuário eletrônico do paciente pode levar alguns meses. São necessários computadores e uma estrutura de rede que atenda os requisitos mínimos.
É preciso um amplo diálogo e planejamento entre os profissionais de TI, a equipe técnica e os médicos — os principais usuários da tecnologia.
Quem regula essa ferramenta?
A Healthcare Information and Management Systems Society (HIMSS), já citada em nossa postagem, apresenta o Eletronic Medical Record Adoption Model (EMRAM), traduzido como Modelo de Adoção do Prontuário Eletrônico do Paciente.
O EMRAM foi desenvolvido em 2005 e suas instruções servem como base para médicos e clínicas em todo o mundo. Esse sistema serve como um protocolo, definindo as exigências mínimas que um hospital deve cumprir ao adotar tecnologias de PEP.
O programa organiza a adoção de certas tecnologias em 8 estágios, de 0 ao 7. O estágio 0 indica a ausência total de um sistema digital de cuidado com o paciente, à medida que o estágio 7 exibe um hospital totalmente digital, com ampla utilização de tecnologias que dão suporte à assistência clínica.
O modelo de EMRAM utilizado nos EUA e na Europa é diferente. Nos Estados Unidos, o PACS (Sistema de Comunicação e Arquivamento de Imagens) é exigido apenas no estágio 6, mas na Europa já é exigido no estágio 5. O modelo utilizado no Brasil é o europeu.
Os estágios
Analise, abaixo, uma síntese sobre cada estágio e suas exigências:
Estágio 0: em hospitais e clínicas, a prestação de exames nas áreas de Laboratório e Radiologia é organizada em prontuários tradicionais, e o paciente não receberá o resultado de seus exames on-line. Na área da Farmácia, a medicação também é analisada de forma tradicional.
Estágio 1: os processos nas áreas de Laboratório, Radiologia e Farmácia já estão instalados e funcionando corretamente. O paciente receberá on-line o resultado de todos os exames que fizer por meio de um prestador terceirizado.
Estágio 2: o hospital apresenta um repositório de dados clínicos em pleno funcionamento. O sistema também permite o intercâmbio de informações.
Estágio 3: a documentação da área de Enfermagem já está presente no PEP. Um sistema consegue verificar erros durante a prescrição de medicamentos ou solicitação de exames. O PACS já está disponível em muitas áreas do hospital, não se limitando apenas à Radiologia.
Estágio 4: um programa para solicitação de consultas e exames já está instalado em, no mínimo, uma área clínica. O sistema já se baseia em protocolos predeterminados.
Estágio 5: as imagens não são mais impressas. Todos os filmes são eliminados.
Estágio 6: o sistema de apoio à decisão clínica está mais estruturado e acusa alertas de irregularidades, com forte interação entre a documentação médica. Na área da Farmácia, os medicamentos são administrados em um circuito fechado.
Estágio 7: o prontuário eletrônico do paciente está em pleno funcionamento em todas as áreas do hospital. Os dados clínicos estão disponíveis em todas as áreas, com forte integração para compartilhar informações.
Processo de validação
A HIMSS disponibiliza um questionário para definir em qual estágio o hospital se encontra, coletando informações sobre as tecnologias utilizadas. Com base em certos algoritmos, a instituição indica o patamar alcançado pela clínica.
Para estágios mais altos, somente o questionário não é suficiente. Se os dois estágios mais altos estiverem definidos, um novo questionário será enviado para confirmar se o hospital, de fato, disponibiliza certas tecnologias.
O novo questionário apresentará questões subjetivas, sondando o patamar de utilização de certas tecnologias e o caráter do hospital. Após o envio, as informações serão analisadas pela equipe da HIMSS Analytics, que envia uma mensagem com pedidos de informações adicionais e comentários.
A penúltima etapa consiste em uma videoconferência — os gestores do hospital devem apresentar a clínica para os auditores da HIMSS. Se o resultado comprovar um estágio maior que 6, a instituição agendará uma visita à clínica.
Por fim, a clínica é visitada pelos auditores da instituição, que analisam o hospital e entrevistam médicos, profissionais de saúde e atendentes para confirmarem a prática de todo o recurso esperado pelos estágios mais avançados. Após o processo, o hospital é premiado em algum evento oficial da HIMSS.
São inegáveis as vantagens fornecidas pelo prontuário eletrônico do paciente. O sistema pode ser moldado às necessidades de cada clínica, atendendo com excelência instituições com 50 ou 1000 leitos. Para os pacientes, a tecnologia fornece maior segurança às informações.
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